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a humanidade não passa desse século & outros poemas

por Raí Prado Morgado
raí prado morgado

a humanidade não passa desse século 

a cadeira sozinha o vazio integra
carros condenados por poluição atmosférica
política nunca passou de estratégia
como as crises em tempos de guerra 

hoje os ataques são por via aérea
se importa menos com a fome do que com minério
exploradores se espalham de um jeito eclético
expansão transcontinental sempre foi império 

quebra ventos
recuperam a paisagem 

para o governo
grilagem de terra não é verdade 

a ocorrência de latifúndios
além de histórica
compõe do país uma face interna


eu te chamava primavera 

as ruas engolem quem passa
a cada cem metros de calçada
encontro você porque essa cidade
tem seu rosto e o contorno
dos prédios formam seu corpo
de um modo que só vi em sonho
e nas esquinas dos bares 

tento não ouvir mesmo que me fale
das ruas em paralelo que formam uma lógica
das festas populares que viram um sábado
das noites amanhecidas que abraçam os bêbados 

sigo inerte para entender o que de humano
se faz celeste
e espero que a prática de contar estrelas
me faça transcender as teses
de enxergar que o desabrochar
de uma flor também carrega
algo de astronômico 


o que tentar antes de amanhã 

correr atrás das sílabas
que formam as es
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀tra
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀das
esquecer seu rosto
tatuar uma parábola
perseguir o mar
tocando os pés
de quem nunca foi à praia


como pássaros, vivemos 

a vida é esse desespero imenso
os cachorros abandonados
atravessam a avenida cabisbaixos
como os homens desse tempo 

acendemos as luzes dos apartamentos 

nada nos falta senão a alegria
hoje é dia de observar a lua
passando atrás das nuvens 


Raí Prado Morgado (Caraguatatuba, 1999) é membro do conselho editorial da revista Mallarmargens, da qual também é responsável pela gestão das redes sociais. Além disso, é o escritor responsável pelo Sob o Silêncio, projeto literário com mais de 50 mil seguidores, e expõe e vende itens artesanais do projeto em eventos culturais pelo estado de São Paulo. Tem poemas publicados nas revistas Subversa, Vício Velho, Mallarmargens, Pixé e Ruído Manifesto, no Brasil, e pelo coletivo MásPoesia, na Argentina. 

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